Folha branca,rasgada e feia,
Que do meu leito espreita.
Esconde palavras à ceia,
Que o fado não aceita.
Uma palavra se liberta
Da prisão de papel subjugada.
Procura uma porta aberta
De volta à mente atribulada.
Corre pela cama bruta,
Seguindo o calor do corpo.
Nada perdida como truta,
E já nao O sente morto.
Filha do turvo vinho,
E mãe, a infância frustrada.
Da família sem carinho.
Da avenida sem estrada.
Suja o lençol por onde passa,
De tinta fresca e delineada.
Marcando com sangue e raça,
A sua viagem nao planeada.
A mente do poeta era a meta,
Aquela mesma que um dia a expulsou
Com a velocidade de uma seta,
Para a folha nua que encontrou.
Mas a folha era escura e fria,
Sem vida,amorfa e fechada.
Reviver era o que queria
O rosto da mulher amada.
As lágrimas aí rolaram,
Lágrimas azuis que libertou.
O lençol puro mancharam
E a palavra ali se desenhou.
Os olhos do poeta mal abriram,
Sentiram logo um enorme calor.
Encadeados com a luz que viram,
Que brotava da palavra amor!
Vítor Horta